Biologia do envelhecimento


Biologia do envelhecimento

O processo de envelhecimento é chamado de senilidade. Caracteriza-se por um declínio gradual no funcionamento de todos os sistemas do corpo cardiovascular, respiratório, geniturinário, endócrino e imunológico, entre outros. A crença de que a velhice está associada, invariavelmente com profunda debilidade intelectual e física, entretanto, é um mito. A maioria das pessoas retem suas capacidades cognitivas e físicas em um grau notável.
Os vários decréscimos relacionados com a velhice não ocorrem de modo linear. Nem todos os sistemas orgânicos deterioram-se na mesma proporção, nem seguem um padrão similar do declínio para todas as pessoas. Cada pessoa está geneticamente dotada de um ou mais sistemas vulneráveis, ou um sistema pode tornar-se vulnerável por causa do estressores ambientais ou mau uso intencional, por exemplo, exposição excessiva a raios ultravioleta, tabagismo, álcool. Além disto nem todos os sistemas orgânicos deterioram-se ao mesmo tempo. Em vez disso, qualquer um dos vários sistemas orgânicos começa a deteriorar-se, o que, então, leva à doença ou à morte. "Cada velho constrói sua própria velhice."
Em geral, o envelhecimento de uma pessoa ocorre nas suas células. Sabe-se que cada célula possui um tempo de vida geneticamente determinado, durante o qual pode replicar-se um número limitado de vezes, depois do que, morre. Isto pode ser precipitado por erros genéticos adquiridos e a morte celular programada se tornar prematura. Com a idade, ocorrem mudanças estruturais nas células. No sistema nervoso central, por exemplo, as modificações celulares relacionadas ao envelhecimento ocorrem nos neurônios, que apresentam sinais de degeneração. Na senilidade quando há grave perda da memória e perda do funcionamento intelectual, com sinais de degeneração muito mais severos, devido à degeneração neurofibrilar, é mais comumente conhecida como doença de Alzheimer.
Alterações na estrutura do DNA e RNA também são encontradas nas células que envelhecem, sua causa tem sido atribuída a programação genotípica, raios X, produtos químicos e alimentares, entre outros. Fatores genéticos têm sido implicada em transtornos que geralmente ocorrem em idosos, tais como hipertensão, doença das artérias coronárias, arteriosclerose e doença neoplástica.
Não existe provavelmente uma causa única para o envelhecimento. Todas as áreas do corpo são afetadas. Segundo alguns autores, envelhecimento são as complexas manifestações que levam ao encurtamento da expectativa de vida; soma das alterações biológicas, psicológicas e sociais que, depois de alcançar a vida adulta e ultrapassar a idade de desempenho máximo leva a uma redução gradual das capacidades de adaptação e desempenho psicológico do indivíduo.
Do ponto de vista físico podemos observar:
a. diminuição da altura, relacionado com a diminuição dos discos vertebrais, um fator da curvatura da coluna.
b. Atrofia dos aparelhos locomotores, prejudicando o apoio e aumento dos tecidos conjuntivo e adiposo.
c. Alterações na pele e embranquecimento dos cabelos;
d. Diminuição contínua da capacidade funcional dos órgãos dos sentidos.
O envelhecimento físico de órgãos e sistemas
Não há uma ordem de decadência nos diversos órgãos. O que sofrerá mais ou menos vai depender da qualidade de vida da pessoa. Passaremos a descrever como o processo de envelhecimento nos diversos sistemas orgânicos atinge em especial naqueles que não retardam o envelhecimento por não tomarem medidas preventivas.
a) Sistema nervoso.
As células ganglionares do sistema nervoso central são pós-mitóticas, isto é, elas perderam sua capacidade de dividir-se. O cérebro pode perder durante o envelhecimento 54% dos neurônios no córtex superior, 30% na região do putâmen, 25% no cerebelo. Admite-se que a perda diária de neurônio é da ordem de 50.000 a 100.000 perfazendo até os 80 anos a uma perda de 300.000 até 3 bilhões de células, o que é pouco face aos 200 bilhões estimados hoje existir. A perda da função destes processos de atrofia é pequena relativamente, pois, os neurônios que sobram assumem de forma compensatória. Porém, há pesquisas que correlacionam a demência de Alzheimer com uma perda acentuada de neurônios ( ANDRADE, 1988). É importante dizer que um cérebro normal tem cerca de 199 bilhões de células nervosas .
b) Sistema circulatório
Devido ao processo de esclerose, é exigido um maior desempenho do coração, a isso ele reage com hipertrofia. Também com o aumento do colágeno, ocorre um enriquecimento dos tecidos das válvulas.
Nos vasos arteriais ocorre com o aumento da idade o enriquecimento e a diminuição da elasticidade, o engrossamento e serpenteamento das paredes.
As veias mostram menores alterações, os capilares reduz na quantidade e altera a parede.
c) A pele
Por causa da diminuição da atividade de mitose a pele pode se tornar enrugada, frouxa. A pele se torna fina porque a derme, camada inferior, sofre uma perda de colágeno e mucopolisacarideos que leva a uma perda de 10-15% de água.
d) A musculatura, cartilagem e ossos
A diminuição da força muscular e da massa muscular serve como manifestação de envelhecimento. A involução ocorre de forma mais lenta que a diminuição da força. Há uma correlação entre a diminuição da massa muscular e a diminuição dos hormônios sexuais.
As cartilagens e ossos sofrem acentuados processos de envelhecimento. Observa-se alterações dos mucopolissacarideos que provoca a perda de água e conseqüente calcificação. O teor do colágeno diminui levando a atrofia do tecido ósseo, osteoporose, que se tornam cada vez mais frágeis, porosos e quebradiços.
e) Capacidade de apropriar-se do meio através dos sentidos
A redução da capacidade dos órgãos dos sentidos também está ligada a atrofia, redução das células ganglionares. As papilas gustativas, por exemplo, do número originalmente disponível, uma pessoa de 75 anos em média só possui 36%.
São características as dificuldades de audição no sentido da diminuição da amplitude de freqüência ouvidas, esta perda aumenta com a idade e é maior nos homens que nas mulheres. Isso se deve a atrofia das células ciliadas na cóclea, que foram agredidas traumaticamente. Sabe-se que o maior dano não é com a idade mas com o meio urbano. A deficiência para sons agudos é de significância psicológica, pois são as freqüências mais altas que desempenham um papel importante na compreensão das conversas quando várias pessoas estão falando. O uso do aparelho de surdez, embora estigmatizado é indicado para que não haja um isolamento do idoso.
Na visão temos vários aspectos: a sensibilidade a luz diminui com o ofuscamento e as diferenças entre várias cores não são bem notadas. A esclerose do cristalino compromete sua capacidade para ver detalhes e de perto. O uso de óculos pode corrigir esta deficiência. Nota-se uma redução da elasticidade da pupila reduzindo a quantidade de luz que chega ao fundo do olho. Uma compensação seria o aumento de nível de luminosidade. A sensibilidade ao ofuscamento aumenta, o olho exposto demora mais a voltar a ver com acuidade normal.
f) Capacidade de análise e síntese dos vários estímulos; capacidade de compreender e utilizar-se dos arquivos de aprendizagem e memória
Relacionadas com o sistema nervoso central e com aspectos psicológicos , o idoso, em geral, demora-se mais a decidir-se do que os jovens. A fragilidade do seu organismo e suas falsas percepções vai condicionando comportamentos medrosos. O uso de óculos e aparelhos de surdez servem de auxílio para os sentidos. O uso de sapatos adequados e talvez uma bengala poderá ser útil contra eventuais acidentes.
As mudanças específicas do sistema nervoso provoca esquecimento, confusão, disfunção da capacidade intelectual, da coordenação motora, do equilíbrio e postura. O idoso deverá organizar sua vida de tal forma que essas mudanças não proporcionem frustrações demasiadas. O uso de agendas, lembretes podem ou melhor servir para auxiliar a adaptação.
O homem envelhece na dependência do corpo, da mente e da sociedade. Envelhece em moldes mentais em função do alicerce genético e envelhece também morbidamente em função de outros fatores biológicos como agressões traumáticas, diminuição das forças físicas e outras. Assim, o velho, condenado à fragilidade, à dependência e ao desajuste social, torna-se vítima de problemas de ajustamento.
O envelhecimento patológico é caracterizado por alterações maiores que o limite considerado normal para determinada idade, com tendência à evolução mais rápida que o fisiológico.
Os elementos que modificam a psicologia e provocam situações conflitivas nos velhos são classificados em sócio-econômicos, psicológicos e físicos.
Os elementos sócio-econômicos e os derivados de urbanização e industrialização, de isolamento social e de confinamento em asilos provocam sentimentos de desvalorização e desprestígio.
A aposentadoria e o medo de perder o emprego podem ocasionar reações de desajuste e a perda da autoridade origina comportamentos de auto-afirmação.
Destacam-se entre os elementos psicológicos da velhice a impaciência, a irritabilidade, o ressentimento e a depressão do humor.
Os estados carenciais, neoplasia cerebral-primária, alcoolismo, doença de Parkinson, arteriosclerose, traumatismos, doença de Alzheimer, múltiplos infartos, endócrinopatias, colagionose, acidente vascular cerebral, doença cerebral difusa, meningites são algumas causas da demência.

(Fonte: Revista de Psicofisiologia_1998 Cap. 6)